Precisará de um combustível. Vamos
usar carvão vegetal? Diesel? Álcool? Gasolina? Não! Nosso combustível
deve ser ecológico e renovável. Gerar vida e não morte;
Precisará de um trilho. Qual
será abitola, a medida desse trilho? Será a medida de nossos sonhos!
Não podemos nos deixar guiar nem instrumentalizar, seja qual for à
justificativa;
Precisará de maquinistas. Que
sejam amorosos, que saibam com clareza qual é o sentido de nosso trem.
De nossos sonhos, de nossa luta. Para tanto, precisa de uma metodologia
libertadora, humanizadora, de formação e mobilização. De uma teologia da
libertação, que ensine a amar e não a ter medo;
Precisará de estações. Onde
uns descerão e outros subirão. Livremente! São paradas para abastecer,
para descansar, para refletir. São a confirmação do direito universal de
ir e vir, negado a tantas pessoas, sobretudo jovens do meio popular;
Precisará de manutenção. De
revisão, de reforço didático e metodológico. De conteúdos que sejam
construídos por todos os passageiros. De sustentabilidade, que, mais que
recursos, contenha comunicação e dialogicidade. De educação para a
liberdade;
Precisará de um ritmo. Que
atenda e respeite os mais variados ritmos e tempos de seus diversos
passageiros. Que saiba o tempo de correr e o tempo de parar. O tempo de
dobrar os joelhos e fechar os olhos e o tempo de arregaçar as mangas e
lutar. O tempo de ouvir e o tempo de falar;
Precisará de sinais. Quais
serão os sinais que nos orientarão no percurso? Apontando os perigos,
os desafios, as conquistas e avanços? Para não ficarmos excessivamente
otimistas e perdermos o senso crítico, mas também não nos perdermos nas
críticas vazias e genéricas. Ambas têm o poder de afastar pessoas.
Precisará de janelas. Que
possibilitem a entrada de ar fresco e refrescante. A brisa e o cheiro
de nossas matas, rios e terras. O perfume de nossas flores, a beleza de
nosso céu. Janelas que nos permitam namorar a vida. Aprender e ensinar
com outras pessoas. Com outras pastorais. Com outros movimentos. Com
outros passageiros de outros trens, que deslizam sobre outros trilhos,
mas que buscam a mesma estação final. A sociedade justa e solidária;
Precisará de eixos. Bem
dimensionados, que suportem o peso de nossas utopias. De nossas
ousadias e indignações. Eixos temáticos que abriguem e articulem nossos
conteúdos, nossos princípios e nossa diversidade étnico/cultural. Que
carreguem bem juntinhas, a fé e a vida;
Precisará de buzina. Para
buzinar forte. Apitar alto a todos os ouvidos, quando algo ou alguém,
ameaçar a vida, nosso bem maior. Quando a vida humana for desumanizada.
Quando as pessoas, a terra, os rios e as fontes forem mercadorizadas.
Mas também para celebrarmos, aos quatro ventos, nossas alegrias. Cantar
nossos louvores;
Precisará de pontes. Que
sejam firmes e fortes. Na fé e na ideologia. Que nos liguem aos abismos
sociais. Que acabem com os isolamentos e com as ilhas sociais. Que nos
levem da indiferença e do comodismo ao engajamento. À solidariedade e à
indignação. Que nos traga sempre nova, a esperança. Fresca, viçosa e
autônoma como a brisa de cada manhã.
Precisará de faróis. Que
iluminem nossos trilhos e destinos. Qual a lua clara sobre o mar,
desvelem as realidades obscuras que naturalizam injustiças e opressões.
Que iluminem os porões do autoritarismo, do moralismo e dos medos e
aponte para o Reino de Deus pregado pelo jovem Nazareno. Que seja uma
espiritualidade capaz de humanizar a vida e as relações. Que comunique o
mistério e nos leve ao encontro com o sagrado. Que nos ajude e ensine a
pensar e não nos transmita apenas pensamentos prontos. Que clareie o
jeito de ser igreja povo de Deus, igreja libertadora, gestada no
Concílio Vaticano II e parida em Medellín e Puebla;
Precisará de uma sombra. De
uma árvore onde faremos poesia, namoraremos e afetivamente faremos
amor. Onde tiraremos as sandálias e descansaremos e de onde retomaremos a
caminhada. Onde cantaremos salmos e reabasteceremos nossas forças. Essa
árvore só pode ser a da juventude plena que é Deus.
João
Santiago
João
Santiago
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