A riqueza não é dividida, a riqueza divide! (Lc 12,13-21) - Maria Soave
Maria Soave é autora de
]Oração
Vem, Divina Ruah, doa-nos de compreender esta
Palavra que acabamos de ouvir, fale diretamente para as nossas vidas,
seja palavra que nos revele o amor que Deus tem conosco, para cada um e
cada uma de nós. Jesus, companheiro libertador de todo tipo de morte,
ajuda-nos a sermos tuas seguidoras e seguidores e a escolher, sem medo, o
teu Evangelho.
A riqueza não é dividida, a riqueza divide!
Um homem pede a Jesus para intervir a respeito de uma
briga entre ele e seu irmão sobre a herança. De novo no evangelho tem
alguém que chama Jesus para resolver um conflito. Este alguém não tem
nome próprio no texto. Provavelmente porque cada um, cada uma de nós é
chamado a identificar-se com esta personagem. Na pergunta sobre a
divisão da herança aparece uma grande ilusão. A pergunta ilusória é
sobre a divisão da riqueza. Este texto nos diz que a riqueza não é
dividida, a riqueza divide!
Jesus recusa, neste texto, o papel de mediador do
conflito. Na perspectiva da grande ilusão da qual estes dois irmãos são
vítimas, a de pensar que a riqueza que divide e violenta possa ser
dividida, Jesus não quer ser considerado o juiz conciliador, mas o
companheiro de caminhada que quer ajudar a entender e indicar os motivos
que determinam o empobrecimento e os conflitos entre as pessoas. Estes
motivos se juntam concretamente ao redor do egoísmo e da ganância.
São estes os dois sentimentos que habitam os irmãos
deste texto do evangelho e Jesus fala deste sentimento de desejo sem
entender o que é necessário desejar. A ilusão, de quem não conhece o que
é verdadeiramente necessário e por isto pensa de encontrar no possuir a
sua segurança.
Qual é nossa necessária necessidade? Esta é uma pergunta de fundo para a nossa vida.
Desde os tempos antigos da caminhada de libertação no
Êxodo, nossos pais e nossas mães na fé tiveram que responder a esta
pergunta. No tempo do deserto, no tempo da divisão do poder e da
profunda defesa da Vida, seguindo o Deus Libertador, o Povo das tribos
no caminho de libertação teve que aprender como dividir algo que não
sabiam nomear e por isto chamaram "maná". Tiveram que aprender a
partilhar "segundo a necessidade".
Lembramos também que, no Primeiro Testamento, uma
tribo, a de Levi, a tribo dos homens e mulheres errantes e mendicantes
de tenda em tenda, esta tribo não recebia nenhuma herança, nenhuma
terra, exatamente para poder testemunhar, na transparência do corpo e
das relações, que única herança é Javé libertador.
Também no Segundo Testamento o contrário da ganância é
a plenitude em Deus. Por isto Paulo, na carta aos Colossenses 3,5, nos
diz que a ganância é idolatria!
A ganância faz o nosso coração se dividir entre
diferentes desejos, e um coração dividido é um coração idólatra, uma
alma, transparência de corpo que perdeu o necessário, o testemunhar em
todo o respiro da Vida que única herança é Javé Libertador!
Os bens não nos livram da morte
Neste texto do evangelho de Lucas Jesus faz uma
afirmação muito séria: "sua vida não depende de seus bens". Como para
dizer que uma pessoa não é dependendo do que possui. Uma pessoa não é
humana por causa de seus bens! A dignidade das pessoas não tem nada a
ver com os bens que possuem! Para Jesus e seu movimento existe uma
condição profundamente humana que é "outra" em relação ao possuir.
Viver do necessário, a capacidade de dividir para
poder multiplicar, ser transparência comunitária e ecumênica que nossa
única herança é Javé libertador de tod@s @s pequenos e empobrecid@s, é o
nosso caminhar no seguimento de Jesus!
Para mostrar como a prática da ganância seja
negativa, Jesus nos conta uma parábola. De um rico sem sabedoria, isto é
sem a capacidade de olhar com os olhos do essencial que são os olhos de
Deus no meio da História da Humanidade.
Este rico sem sabedoria acredita de estar no seguro
por muitos anos tendo acumulado muitos bens e ao qual na mesma noite é
pedida de volta a própria vida. Nesta parábola a abundância é muito
presente. O homem é rico e a colheita é abundante. O homem rico pensa
entre si sobre o que irá fazer da colheita abundante. Ma só pensar entre
si e não partilhar o pensamento leva a uma decisão egoísta e insensata
que faz da bênção da abundancia na colheita uma maldição. A bênção não
pode ser de uso individual!
Uma reflexão individual que não é partilhada em
comunidade pode nos levar, como no caso da parábola, a um programa de
vida esvaziado de amor. Os bens não nos livram da morte e da nossa
finitude. Aliás, podem nos impedir de viver na partilha e na condivisão,
de aprender a viver do necessário para que ninguém passe necessidade.
Os bens podem não permitir que sejamos o que é nossa
profunda vocação, desde os mitos bíblicos de criação da Humanidade...
gente nua e sem vergonha deste "estado" primordial... a nudez... o que
nos faz reconhecer o que gaguejamos com o nome de Deus(...)! Nossa única
e verdadeira riqueza... Amém e amem... isto é: continuemos amando!
Para continuar a oração: Tome em sua Bíblia o salmo 89 (90)
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